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15 de abril de 2008

Intuition, de pamela Jeager

Ainda era criança quando descobri que devia acreditar nas coisas que subitamente sabia a priori, sobretudo se esse saber chegava com ímpeto. Não opus resistência a esta ideia. Cresci com ela.
A falsidade e o errado de tanto que vejo, se olhar de olhos fáceis, tornaram-me aberta a confiar em muitas coisas que estão do lado enviesado, nas incertezas, nos impossíveis de provar. É esse o meu lado, se a voz de dentro me diz que fique aí. Nem o acentuado declive me parece inóspito, pelo contrário, gosto dele. Deito-me e fico de pé. Durmo e acordo hiper-lúcida. Reviro os olhos e vejo o que é autêntico.

Como esses bichos invisíveis e horrendos, gente que fala entre si aos altos brados roucos, arrepela os cabelos e espuma de raiva, usurpando, amaldiçoando, oculta num visível civilizado, com bons modos de criatura alinhada, que vai floreando coisas que delapidam fundo quem lhas ouve. Mas tão suaves, tão delicadas, como podem ser outra coisa que não o cor-de-rosa ou o azul céu? Podem. Se fica uma areia que persiste em magoar-nos para lá dos argumentos, é porque são o oposto. E o perfume que evola da polidez das palavras é verdadeiramente um salpico de saliva raivosa. Tem o odor fétido que a intuição sente.

Não faz mal se me julgarem doida por contornar tantas pessoas bonitas e simpáticas como se fossem hidras de sete cabeças. Também sou muitas vezes o alvo dos perfumes, do cor-de-rosa e das más notícias com modos de avelãs. Tantas vezes reconheço os cactos por detrás das flores e sei como os espinhos ficam nos dedos e magoam tanto. Por isso desvio os passos, afasto-me dos monstros.


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