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15 de junho de 2008

Como uma flor que se suicida antes que lhe toquem os dedos decepadores, ofereço o silêncio da morte e a falta de frescura ao invasor inesperado. Quantas luas faltarão para a raiz sobrada deitar outra corola...? penso assim que acabo de morrer. Depois suspiro profundamente e encho-me de uma coisa qualquer que parece mesmo paciência, mas não é, porque estou a explodir por dentro, e cumpro a obrigação a que não tenho como escapar senão com sentidos figurados. Sim, estou aqui a conversar com o intruso, mas tão morta, e levanto molemente o braço deixando-o cair em cima da mesa, para seu imenso pasmo, que se intensifica quando ouve os sons que produzo, incompreensíveis, porque a língua já não tem sensibilidade nenhuma (quem me dera ter feito tudo isto realmente).

Em pleno âmago da questão (que para mim não o é) já cheiro mal e começam a sair algumas larvas pelos cantos dos meus olhos. Sacudo uma e... oh! acerto-lhe no rosto mas ele julga que se trata de um perdigoto e, polidamente, não o seca. Fico a ver o bicharoco a descer-lhe até à beira dos lábios que não param de mover-se, cheios de razões que atraem lagartas, o que nada me espanta, e isso não é por estar morta. Entretanto acontece-me tombar, porque a cadeira não tem braços que me amparem, e fico no chão a apodrecer rapidamente por causa do calor, mas nem assim ele se cala. Se eu ainda pudesse pensar, estaria a perguntar a mim mesma ''mas como é possível ser-se tão obnóxio?'', mas já não possuo essa faculdade, e ele finalmente acabou de falar e foi-se embora, porque eu disse ''está bem, se tem de ser assim!'', enquanto arqueava as sobrancelhas e encolhia os ombros.

Era só o que ele queria: falar imenso! A aquiescência, tê-la-ia tido por e-mail, pois se tinha de ser assim, bastava uma explicação simples, toda aquela chatice se tornava balofa.

Finalmente livre e novamente viva, levanto-me e cerro os punhos, resmungando ''se ao menos eu pudesse ter feito tudo aquilo que senti!!!''


© Fata Morgana

Não sei quem é o autor da imagem!

39 comentários:

Anónimo disse...

Uau!

Obrigado pela visita e comentário no Humanóide... e mais ainda pelo link (já retribuído). Gostei do texto aí de baixo, ilustrado com quadro de Levy-Dhurmer. Parabéns pelo blog, cheio de personalidade.

Ana Beatriz Frusca disse...

Wow!
Se eu suspeitava que tu eras gó a partir desse texto tive a certeza de que és uma autêntica!
Bonita essa viagem de morte em vida!
Sou obrigada a concordar com o Rodrigo: teu blogue é carregado de personalidade, a tua!
Beijos, beijinhos e beijões aos borbotões.

PS: Minha estréia na Nova Águia:
Vida e Morte

Maria José Silva disse...

Olá,
Gostei demais do teu "canto".
Obrigada por compartilhar esse teu lado que, encanta, assusta e não se esquece.

Fata Morgana disse...

Obrigada eu também, Rodrigo, e ainda bem que gostaste!
Até breve (já lá voltei e voltarei:)

Fata Morgana disse...

Biazinha,
Pois sou... e de nascença.

Eu li-te na NA :)) Vou lá todos os dias ver as novidades! Achei uma doçura teres feito a tua estreia com uma dedicatória. Vai com força, menina, tens aqui uma fadona a torcer por ti.

Beijos

Fata Morgana disse...

Psytasya,

obrigada.
Também fui espreitar ao teu, estavas na companhia de Rilke!

"Encanta, assusta e não se esquece." :)

Beijo

Daniel Aladiah disse...

Querida Fata
Mais um texto deslumbrante! Consegui ver tudo o que descreves, delicioso... como se estivesses a "engolir um sapo", talvez fosse mesmo isso. Esperas o "grito de Ipiranga", que teima em não te sair...
Um beijo
Daniel

Fata Morgana disse...

Daniel,
percebo que tenhas visto :) Eu própria também vi. Vi de uma forma tão real que tive de escrever!
Mas não foi nada assim muito dramático - eu é que sou muito dramática! Não justifica um grito de Ipiranga, caso contrário, eu gritava mesmo :)

Beijo*

Heduardo Kiesse disse...

beijão envolto na pureza das tuas palavras!!

Edu

Nilson Barcelli disse...

Detesto os textos góticos, mas nem sei por que gosto do que escreves...
Se escrevesses fora desse registo, serias uma escritora. Assim, vais continuar com larvas e outros bichos à tua volta...
De qualquer modo é um magnífico texto, porque até eu acho que o percebi, mesmo não sendo gótico...

Bfs, beijinhos.

Heduardo Kiesse disse...

voltei so pra ler com mais paladar... :-)

Ana Beatriz Frusca disse...

Ao contrário do Nilson, eu adoro os textos góticos!
Sumiu de minha casota, heim?
Mas fico feliz quando me visita no blogue NA.

Beijos.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

O Nilson, não sabe porque gosta do que a Morgana escreve, porque detesta os textos góticos?

Talvez deva redefinir o seu conceito de gótico...

Porque tomei a liberdade de conhecer um pouco do NimbyPolis e gostei mesmo muito do que li, mas imagine-se que também lá encontrei alguns laivos góticos...

E se a Morgana escrevesse fora deste registo, seria uma escritora?!

Mas, isto é uma opinião ou uma provocação?!

1º - Desde quando é que para se ser considerado escritor, tem que se escrever dentro de um determinado registo? E determinado por quem?

2º - A Morgana é uma Escritora.

E não estou a dar importância ao facto de ser amadora ou profissional. Se já publicou alguma obra literária ou não.

Estou a dizer que sabe expressar-se, revelar-se a si, ao seu mundo e á forma como o vê e sente através da arte da escrita.

Daí, gostarmos do que escreve.

E não é isso que interessa? :)

Bjs
***

Ruela disse...

Excelente!!!

Fata Morgana disse...

Paradoxos,

obrigada. Por teres encontrado a pureza e voltares para a saborear. É realmente um paradoxo. Mas é bonito.
Hei-de ir retribuir as tuas visitas.

Beijo

Fata Morgana disse...

Nilson,

A Psiquê está coberta de razão quando diz (sobre o teu blog) "gostei mesmo muito do que li, mas imagine-se que também lá encontrei alguns laivos góticos..."
Já te disse o mesmo algumas vezes... E aposto que se fores ler a Psiquê, vais retribuir o "mesmo muito" gosto com que ela leu o teu.
O que se passa é que não te apercebes de que partilhas um pouco o nosso olhar, pela forma como vês e sentes tantas coisas :)

Nunca me zango com as críticas duras que me tens feito, há tanto tempo. Eu sei que gostas do meu olhar risonho. Esse está mais no Claro Obscuro. Daí o "Claro". Neste encontras o "Obscuro". É mais fundo e mais eu. Não sou a menina distraída que fica com a saia entalada na porta e tem o bom senso de se divertir com isso :)) Essas são as coisas engraçadas que acontecem a mim, aqui, neste mundo a que sei tão bem que não pertenço.
Lê a Ana Teresa Pereira, talvez mudes de ideias quanto aos registos. Vê lá tu que até aposto novamente: se leres um livro ficas fã e lês a colecção inteira.

Um grande beijo, cheio de amizade.

Fata Morgana disse...

Biazinha,

o Nilson também gosta, sabes? :)
Sumi de todo o lado. Mas tenho tomado nota de muitas coisas para te dizer, coisas importantes. E vou falando contigo na NA, claro.
Esta semana que começou hoje, já vai ser normal, vou poder voltar a visitar-te, a ti e a todos! Uf... :))

Beijos deste lado do mesmo mar*

Fata Morgana disse...

Psiquê,

não quero vir a repetir-me pela caixa de comentários abaixo, mas o Nilson gosta do que escrevo, sim. Há uns anos que nos lemos mutuamente.

Se fores ao outro blog, sobretudo aos textos a que chamei "Confissões", ou às minhas histórias de robôs, e vários poemas que são como fotografias de "lugares risonhos" onde senti, acho que entendes porque estes textos o impressionam. Dantes, eu não me expunha tanto como aqui.

Obrigada por (também tu) gostares do que escrevo! Eu também gosto muito do que escreves. Tens lá uma "Carta" que me encheu as medidas!!

Beijos!

Fata Morgana disse...

Ruela,

obrigada!
Vou seguir as tuas pegadas, gosto imenso de andar por caminhos que não conheço e foi assim que fiz amizade com tanta gente. Conta que te apareça em breve, portanto :)

Um abraço.

Fata Morgana disse...

Um sorriso também para ti, Malatesta!

Ana Beatriz Frusca disse...

Eu adicionei seu e-mail aos meus contatos, por isso convite do HI5 foi enviado. Assim que aceitei o convite do Eduardo do Blogue Paradoxos, enviei convite para todos.
Beijinhos, fadona!

Anónimo disse...

Ah, sim, então agora compreendo o seu comentário.

Sabes, a “Carta” não é apenas inspirada em “factos verídicos ou autobiográficos”. É real. Existiu. Escrevi-a há alguns anos para enviar ao seu destinatário, mas depois deixou de fazer sentido e guardei-a. Até agora.

Beijos :)

Fata Morgana disse...

Biazinha,

já vou espreitar ao meu e-mail.

Obrigada (tu sabes que não me refiro ao hi5 :))

Beijos*

Fata Morgana disse...

Psiquê,

pois, o Nilson é amigo, para mim muito grande Amigo, mas não tem nenhumas papas na língua :)

A carta... sente-se imediatamente que é real, nem é preciso ser fadona para o perceber ;)
Acho que a devias ter enviado! Mas compreendo porque o não fizeste, também faço (deixo de fazer, melhor dizendo) muitas coisas assim. Acontece-nos andar aqui com os olhos cheios de estrelas... e de repente tropeçamos, e damos com o cu bem assente no passeio! A vida e este lugar-mundo são madrasta e padrasto!

Mas aprende-se a lidar com "eles" ;)

Beijo grande!

Vampiria disse...

va morgana, actualiza la o blog :)))

Fata Morgana disse...

Vampiria,
juro que estava a pensar fazê-lo amanhã :)))

Anónimo disse...

Os Grandes Amigos são (e devem ser) assim mesmo: "sem papas na língua"! :)

Beijos!

Ana Beatriz Frusca disse...

http://www.haloscan.com/comments/morganaafada/107568118687998314/?a=49687

comentei o poema concreto e te adicionei agora ao Hi5.
vou tomar cautela com esse Mao. foi bom ter avisado.
Bjinhos.

Anónimo disse...

Muito bom. Abraços do EU, SER IMPERFEITO e d´A SEIVA

Nilson Barcelli disse...

A falar de mim nas minhas costas... nem sei que vos faça... até a Biazinha, que não conheço... mais uma goticazinha...? Resumindo, estou metido com uma praga de gente gótica...

Reafirmo: não gosto nada da cultura gótica, incluindo prosas e poemas.
Acontece que por haver várias vertentes de gótico e por ter lido muito da Fata Morgana (e da Psiquê), fui entrando na frequência e acabei por gostar.
Mas são apenas casos particulares, pois eu não confundo a árvore com a floresta...

Beijinhos para todas

Fata Morgana disse...

Psiquê
sim, claro que sim, claro! :)

Beijos

Fata Morgana disse...

Biazinha,
já lá fui (ao poema) e respondi-te. Ao Hi5 ainda não, nem aos emails, porque - imagina! - tenho vírus no meu portátil e nem sequer consigo entrar, o pobrezinho fica a fazer restarts e não sai dali :(
Estou num PC jurássico.

Espero que isto nada tenha que ver com o tal Mao!

Beijos

Fata Morgana disse...

Miguel Barroso,

obrigada e até breve. Seguirei os links que aqui ficaram :)

Um abraço.

Fata Morgana disse...

Nilson,

pois, o menino não se apresenta ao debate, nós vamos falando, evidentemente :)) Mas não foi às escondidas, pois tens aqui tudo o que dissemos :)

"Não gosto nada da cultura gótica, incluindo prosas e poemas."
Ai..... Parece-me que esta tua afirmação é uma calamidade, pois exclui liminarmente uma data de ENORMES poetas e escritores (de que tu gostas!!!).
Ainda bem que gostas da escrita da Psiquê.
E já leste a poesia da Biazona? A Biazinha é uma Biazona, vais ver se não é, por isso nunca poderia ser uma goticazinha. Ela é que tem de se pronunciar a esse respeito, mas goticazinha não é não. Pode é ser gótica!

Olha... não refiles mais com os góticos. Para quê, se tu até gostas de nós? (das árvores, das árvores, não me refiro à floresta!) :P

Beijos para ti.

PS. Bolas, és teimoso :)

Jo disse...

Uma delícia :)
Ler isto foi como reviver algumas conversas (dessas... uiiii) que por vezes, lamentavelmente, temos que suportar... Senti no final, solidariamente, o alívio do "finalmente livre e novamente viva"!

uma vénia ao teu Dom, porque o tens.
um beijo*

Fata Morgana disse...

Uiii mesmo! :)

Obrigada Mariazinha. Toma lá uma rosa vermelha.

Beijo*

Guilherme Lima disse...

"se ao menos eu pudesse ter feito tudo aquilo que senti!!!"
do início ao final do texto...
antes do texto...
bocas mortas, matam (mas só um pouquinho)...
Há um qualquer processo de apodrecimento que se realiza entre o pensamento e o som.
Mal de quem tem de "cheirá-lo"...

Gostei imenso do texto.

Beijo*

Fata Morgana disse...

Ariel D'Angouleme,

sim, do início ao final e ainda antes do texto. Penso que já nasci "nisto".

Entre o pensamento e o som... oh, existem galáxias de verdades e sentimentos puros, intraduzíveis, porque a palavra é tão tosca.
Isto funciona para o bem - que dito em palavras fica tão aquém! - e para o mal, cuja expressão é mais contundente, mas ainda assim fraquinha.
Daí a necessidade de uma encenação íntima. A palavra não é capaz de dar a dimensão. Fica a pena de não ter podido, ao menos, fazer os gestos.

Obrigada!

Beijo*